ABC - quarta-feira , 16 de abril de 2025

Reincidência no endividamento é de 88,6% no Estado e ABC chega perto de 60%

Empréstimo com juros altos pode ser trocado por outro com juros menores. É o que pensa o governo federal com o programa que garante dinheiro a juros menores para trabalhadores. (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Dados do SPC Brasil levantados pela Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado mostram que a reincidência a inadimplência atingiu patamar elevado entre os consumidores paulista. Segundo o levantamento 88,6% dos devedores já tinham histórico de negativação nos últimos 12 meses. No ABC, embora não se tenha ainda um levantamento oficial, se estima que 70% dos consumidores estejam inadimplentes, sendo que 60% reincidiram no último ano.

O estudo aponta que, do total de negativações no estado, 68,30% são de consumidores que ainda não quitaram dívidas antigas, enquanto 20,30% são de pessoas que haviam saído do cadastro de devedores, mas retornaram. Apenas 11,40% dos negativados não possuíam restrições no CPF no período analisado.

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Para Alexandre Damasio, presidente da CDL de São Caetano, esses números do ABC ainda estão sendo analisados para apresentação dentro da mesma metodologia do Estado. Para ele a reincidência é maior nos primeiros meses do ano. “É normal subir no começo do ano, reflexo do consumo do fim de ano; tem a Black Friday, o Natal, a virada de ano e depois tem a lista de material escolar, o IPVA e o IPTU, mas a reincidência vinha caindo entre fevereiro de 2023 e julho de 2024 agora subiu bastante. No ABC temos mais inadimplência porque a região é muito rica”, aponta.

Sobre o levantamento estadual Damasio chama atenção para um inadimplência maior entre as mulheres, basicamente em cartões de fidelidade de lojas e também entre a população de mais idade. “Chama atenção os 30% de inadimplentes entre 50 e 64 anos de idade, essa é a população que só vai conseguir crédito no consignado”, destaca. Para o presidente da CDL de São Caetano a falta de educação financeira é a maior responsável pelo re-endividamento das famílias.

Para Volney Gouveia, economista e gestor do curso de Ciências Econômicas da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), o consumidor quando têm uma dívida quitada se vê impelido a fazer uma nova. “Por falta de uma educação financeira o consumidor que está habituado à inadimplência, quando se vê livre da dívida, se sente como se estivesse autorizado a contrair nova dívida”, analisa.

Gouveia cita o chamado “efeito riqueza” uma sensação que advém do momento econômico mais aquecido, com melhor nível de emprego e consumo. “As pessoas acabam se endividando e comprometendo mais de 30% do seu orçamento. Esse efeito riqueza gera displicência no momento em que o custo do crédito está muito elevado”.

O professor da USCS não acredita que os números do ABC estejam tão descolados dos números do Estado. “Eu não diria que a reincidência da inadimplência está tão diferente. Essa cultura do endividamento é resultado da falta de uma educação financeira. Penso que o ABC pode ter números até maiores do que os da média estadual”.

Para o advogado, especialista em direito do consumidor e ex-diretor do Procon Regional do ABC, Victor Paulo Ramuno, também considera que os fatores emocionais devam ser controlados para evitar o consumismo e, consequentemente o endividamento. Ramuno é autor do e-book “Guia do Consumidor Inteligente: Como Multiplicar seus Ganhos para se Libertar das Dívidas”.

“O critério do equilíbrio emocional, atualmente é fundamental para a saúde das finanças. O meu trabalho de Advocacia Terapêutica é justamente pautado neste temas. O fenômeno do endividamento ultrapassa a falta de educação financeira. Além da educação financeira falta também educação emocional”, diz o especialista em direito do consumidor.

Para Ramuno, pessoas que tiveram origem mais pobre, ou aposentados que eram o sustentáculo financeiro da família, tiveram uma queda de renda e por orgulho não querem fazer uma revisão com a família da sua situação financeira, e com isso o endividamento cresce. “Portanto não é só falta de educação financeira, mas também falta de orientação emocional. As pessoas precisam entender que o dinheiro não pode ser usado para uma compensação emocional para sua satisfação ou uma compensação para suas frustrações e suas dores. O marketing digital usa muito isso para vender produtos que as pessoas não precisam e causa um desequilíbrio financeiro nas famílias”, analisa.

O ex-diretor do Procon Regional do ABC considera que planos do governo, como o novíssimo Consignado CLT, que em três dias somou 40 milhões de simulações, só fazem aumentar o endividamento. “Esses recursos do consignado deveriam ser para para pagar dívidas mais caras, que deveria ser a prioridade, mas muitas pessoas não vão usar o recurso para isso, vão acumular mais dívidas”, completa.

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