ABC - quarta-feira , 16 de abril de 2025

Dengue recua, mas especialista diz que ABC ainda está longe do patamar ideal

Especialista da FMABC diz que não é o momento das prefeituras baixarem a guarda nas ações de combate ao mosquito.  (Foto: Divulgação/PMETRP)

O número de casos de dengue confirmados no ABC e ocorridos nas primeiras 14 semanas do ano passado chegou a impressionantes 19.924, neste ano, até o dia 4/04 pode se ver uma drástica queda com um total de 3.679 casos, segundo o painel de monitoramento do Ministério da Saúde, número que representa apenas 18,4% do período anterior. As mortes também diminuíram de 18 para 2. Porém o patamar está longe do ideal e os casos tendem a ficar mais graves, segundo a médica Alaide Mader Braga Vidal, parasitologista e presidente do Comitê de Contingenciamento, Prevenção, Diagnóstico e Tratamento da Dengue na FMABC (Faculdade de Medicina do ABC).

Os motivos de preocupação são vários e ainda combinados, como a reinfecção por variante diferente do vírus e também porque as mudanças climáticas podem fazer com que o mosquito que antes se multiplicava mais no verão, se reproduza com intensidade em outras épocas do ano.

Newsletter RD

Para a médica o aparente conforto dos números da dengue hoje no ABC não significam que a batalha contra o mosquito vetor da doença esteja vencida. “As mudanças climáticas têm um impacto significativo no número de casos de dengue. O aumento das temperaturas, as chuvas intensas e maior umidade criam condições ideais para a proliferação do mosquito Aedes aegypti. Essas mudanças climáticas têm favorecido a reprodução do mosquito, especialmente em áreas urbanas”, diz Alaide.

A especialista aponta algumas vitórias do poder público que podem explicar os números melhores que os do ano passado, porém ainda extremamente preocupantes. “Acredito que isso é ação do poder público e também o aumento da conscientização da população em relação á gravidade da dengue, mas ainda estamos longe da situação ideal, a minha preocupação, é que pensem que está tudo bem, quando não está. O alerta ainda continua, bastam 10 minutos, uma vez por semana, para a eliminação dos criadouros, portanto a população tem que se conscientizar e fazer disso uma rotina na vida”, orienta a médica da FMABC.

Gravidade

Segundo Alaide Mader Braga Vidal, em algumas regiões os casos estão ficando mais graves e o ABC ainda não experimentou isso, mas não está livre. “Concordo que estão ficando mais graves em algumas regiões, isso pode ser atribuído a vários fatores, como a circulação de novos sorotipos do vírus, que encontram populações menos imunizadas.

O sorotipo do tipo 3, por exemplo, que não circulava no Brasil há mais de 15 anos, voltou a ser diagnosticado e está associado a um aumento da gravidade dos casos no Estado. Outra coisa a gravidade pode ser influenciada por fatores como acesso limitado a cuidados médicos e condições climáticas que favorecem a proliferação do mosquito”, diz.

A circulação dos diferentes sorotipos do vírus da dengue tem se tornado mais frequente em várias regiões. São quatro sorotipos, nominados de um a quatro. “A introdução de novos sorotipos numa área em que eles não eram comuns pode levar a surtos e epidemias, isso já aconteceu em algumas partes do país. Além disso a reinfecção por um sorotipo diferente aumenta o risco de formas graves como a dengue hemorrágica. O vírus pode sofrer mutação como todo vírus pode, isso ocorre naturalmente no processo de replicação viral”, explica Alaide sobre causas que podem agravar os casos.

A parasitologista diz que a vacinação é promessa de um grande salto na redução dos números de casos, porém ainda é cedo para comemorar. A vacina foi introduzida no ano passado e é aplicada no público de 10 a 14 anos de idade. “A vacinação mostra resultados muito bons e promissores, mas ainda é cedo para afirmar seu impacto definitivo. Embora se  tenha dados encorajadores é preciso monitorar os resultados a longo prazo”, completa a médica.

Vacina

A vacinação está avançando, porém as prefeituras relatam baixo retorno para a aplicação da segunda dose, aplicada três meses após a primeira. A prefeitura de Ribeirão Pires, não informou quantas pessoas, do público alvo para a vacina foram imunizadas, mas relatou que apenas 5% dos que tomaram a primeira dose voltaram para tomar a segunda. A vacinação é feita de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h nas unidades de atenção básica. Na cidade foram 60 casos confirmados este ano, com um óbito em investigação. No ano passado foram 191 casos, de acordo com a prefeitura. Já o Ministério da Saúde informa que no ano passado foram 294 casos em 14 semanas e 62 neste ano.

Rio Grande da Serra teve cinco casos este ano, sendo que os números da prefeitura e do Ministério se confirmam. No ano passado a prefeitura diz que teve 215 casos confirmados e o governo federal diz que foram 128. Quanto à vacinação a prefeitura informa que aplicou cerca de 500 doses iniciais e 100 doses de reforço.

Divergência também nos números de São Caetano e os informados pela pasta federal da Saúde. O município teve 344 casos este ano, segundo as contas da prefeitura e 302 segundo o ministério, sem óbitos. No ano passado nas 14 primeiras semanas foram 2.907 casos e uma morte segundo o painel de monitoramento das arboviroses do Ministério da Saúde, mas a prefeitura confirma 2.338 e nenhum óbito. A vacinação na cidade cinco pessoas estão internadas atualmente com dengue, todas em hospitais particulares da cidade. A estimativa é que 9.026 pessoas estejam dentro do público-alvo para a vacinação, mas até agora 3.997, tomaram a primeira dose e 1.657 compareceram aos postos para o reforço.

As demais cidades da região não responderam. Os dados do Ministério da Saúde apontam que Diadema teve 1.052 casos este ano, com uma morte e 3.563 ano mesmo período do ano passado que teve quatro óbitos; Mauá teve 665 casos este ano até agora, sem mortes, e 4.619 casos no mesmo período de 2024, que teve duas mortes; Santo André teve 963 confirmações de dengue este ano e um morto, sendo que no ano passado a esta época já eram 5.033 casos com seis mortes; São Bernardo soma este ano 630 casos confirmados, sem fatalidades, e nas primeiras 14 semanas de 2024 eram 3.180 casos e cinco mortes.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes