
A instalação de casinhas de madeira em áreas públicas para abrigar cães e gatos em situação de abandono ganha espaço ABC. A prática, embora simples, divide opiniões. Enquanto alguns defendem a medida como um bom gesto, outros afirmam que não resolve a causa do abandono e até estimula a permanência dos animais nas ruas. Enquanto isso, cidades da região se mobilizam para resolver a causa e garantir o bem-estar dos pets.
Em Santo André, as casinhas e a ração oferecidas aos cães são doações. A cidade conta com o Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal e com o Comitê Municipal de Proteção e Bem-Estar Animal, composto por representantes da sociedade civil, ONGs e protetores independentes. A Prefeitura também realiza ações de castração e vacinação, e promove feiras de adoção com apoio da iniciativa privada e voluntários.
Diadema desenvolverá, em breve, o programa SOS Pet, que incluirá vacinação, castração e parcerias com clínicas veterinárias. A cidade possui legislação que reconhece os cães e gatos comunitários e mantém o Conselho Municipal de Bem-Estar Animal, responsável por fomentar ações voltadas à proteção e ao acolhimento de animais abandonados. Portanto, quando o SOS Pet estiver implementado, serão realizadas campanhas educativas e mutirões de castração gratuitos.
Já Ribeirão Pires adotou uma estratégia mais visível. Distribuiu casinhas de madeira em pontos estratégicos da cidade e fornece ração por meio do PAPI (Programa de Atendimento ao Protetor Independente), criado para apoiar quem resgata animais por conta própria. A cidade também mantém ações de castração itinerante e promove campanhas de conscientização sobre guarda responsável, inclusive nas escolas da rede pública.
Em São Caetano, as casinhas disponíveis em áreas públicas foram colocadas por moradores. A cidade disponibiliza banco de ração, consultas gratuitas por meio do UBSAnimal e atendimento no hospital veterinário municipal, que realiza cirurgias, internações e castrações sem custo para tutores de baixa renda. O município também organiza feiras de adoção e tem uma central de atendimento para denúncias de maus-tratos.

São Bernardo e RGS não possuem casinhas
São Bernardo não realiza distribuição de casinhas, mas desenvolve campanhas gratuitas de castração, vacinação antirrábica e microchipagem. O município conta com legislação que reconhece animais comunitários e avalia a ampliação das políticas públicas de proteção, com base em boas práticas adotadas em cidades vizinhas. Promove feiras de adoção em parceria com organizações da sociedade civil.
Rio Grande da Serra também não conta com casinhas instaladas pelo poder público, mas a população já adotou a prática em locais como praças e pontos de comércio. O Centro de Controle de Zoonoses realiza castrações, vacinação contra a raiva e orientações sobre zoonoses. A Prefeitura promove campanhas periódicas e atua em parceria com protetores locais.
Políticas públicas
Para Gabriele Mingorance, fundadora da União de Proteção Animal do ABC, a UPA, as casinhas representam mais que abrigo, são símbolo de empatia e responsabilidade. “Sou totalmente a favor. As casinhas representam um gesto de humanidade, pois oferecem abrigo, proteção e conforto para animais que vivem em situação de abandono, muitos vítimas de maus-tratos e irresponsabilidade humana”, destaca.
Gabriele defende a ampliação de políticas públicas e incentivos a protetores, além de campanhas contínuas de castração e ações de educação nas escolas. “Toda iniciativa que melhore a vida dos animais precisa ser respeitada. Mesmo as pequenas ações podem salvar vidas”, diz.
Desde 2016 ao lado de cerca de 20 protetores voluntários, a UPA já resgatou, castrou e encaminhou mais de 7,7 mil animais para lares responsáveis. “Não temos apoio fixo. Vivemos de doações, parcerias pontuais e da solidariedade. Mesmo assim, seguimos firmes. Cada gesto de ajuda faz diferença”, afirma Gabriele.
Silvia Dias, diretora administrativa do Clube dos Vira-Latas, também reforça a importância do acolhimento efetivo e das políticas públicas mais estruturadas. “Não tenho conhecimento sobre as casinhas, contudo, dependendo da iniciativa, do material e das condições, acho positivo. Acredito que as prefeituras podiam fazer campanhas de acolhimento mais efetivas, ir ao cerne da questão”, comenta..
Segundo Silvia, o Clube dos Vira-Latas abriga hoje cerca de 350 animais, a maioria idosos que nunca encontraram um lar. “É uma realidade triste. Um abrigo nunca será o melhor lugar. Eles precisam de família, casa e carinho”, diz. A instituição sobrevive exclusivamente de doações pelas redes sociais e programas, como o Padrinho Legal, no qual a pessoa escolhe um animal para ajudar mensalmente. “Sempre buscamos parcerias, mas poucas empresas respondem. Até serviços simples fariam diferença. Nossa missão é dar voz aos que não podem falar”, completa..