
As prefeituras têm investido pesado em sistemas de monitoramento por câmeras na última década. Mais recentemente, a tecnologia passou a permitir que esses equipamentos façam a leitura de placas de veículos informação que pode ser cruzada com bancos de dados da segurança pública. Fora o sistema estadual da Muralha Paulista, as prefeituras do ABC têm mais de 300 câmeras capazes de identificar se um veículo é produto de roubo ou furto e ainda se ele ou o proprietário está envolvido em crime. Porém, nem todos esses sistemas estão ligados aos bancos de dados da polícia.
Caso de Diadema, que possui câmeras com a tecnologia, mas não tem parceria com o Estado para o cruzamento de informações com o banco de dados da Secretaria de Segurança Pública. Mesmo assim tem conseguido êxito com os equipamentos. No dia 19 de março, uma câmera da Prefeitura instalada na rua Alfenas, no bairro Jardim Campanário, flagrou a atitude suspeita de três rapazes com uma moto. O fato de não conseguirem dominar completamente a moto e até deixá-la cair chamou a atenção do operador da Central de Monitoramento e viaturas da GCM foram destacadas para o local e três rapazes foram detidos.
São Bernardo possui 404 câmeras por toda a cidade, algumas delas contam com essa tecnologia de leitura de placas de carros, mas a Prefeitura não disse quantas são, apenas que há parceria com o Estado para acesso aos bancos de dados.
Em Ribeirão Pires são três locais onde as câmeras podem ler as placas dos carros; as avenidas Humberto de Campos, Keathe Richards e Euclides Menato. E em Rio Grande da Serra não há câmeras capazes de ler placas de carros.
Informações estratégicas
Para o coordenador do Observatório de Segurança Pública da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e professor de Direito Penal, David Barbosa Pimentel de Siena, sem a integração o sistema não atinge todo o resultado que poderia obter. “Penso que esse tipo de investimento não só é desejável, como é estratégico por parte das municipalidades. Esse equipamento faz as vezes de um policial ou de um guarda dedicado 24 horas por dia, durante 7 dias por semana, então tem um retorno bem interessante do ponto de vista econômico e porque produz informações estratégicas para o combate não só aos crimes patrimoniais, como furtos e roubos de veículos, mas também proporciona uma melhor gestão da mobilidade das vias do município”, analisa.
Siena diz que há uma oportunidade para que os municípios com orçamentos menores tenham também capacidade para implantar seus sistemas com câmeras inteligentes. “O grande desafio é a questão dos investimentos, de recursos. Mais uma vez urge a necessidade da aprovação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da Segurança Pública, que trata de um fundo nacional, que vai ser um grande instrumento de financiamento de segurança pública, sobretudo para os municípios que têm orçamento menor”, destaca.
O especialista em segurança pública diz que a cooperação entre o ABC e a Capital, no compartilhamento de informações e troca de experiências é estratégica. “Existe a mobilidade criminal, onde os criminosos não respeitam divisas e limites municipais. Vão lá subtraem um carro e, na empreitada, ele passa dois ou mais municípios do ABC e pode chegar em São Paulo. Santo André tem um histórico de roubos e furtos de veículos que chama atenção, um dos fatores que leva a esse grande número é o fenômeno da mobilidade criminal, Santo André faz limite com outros municípios e com a Capital onde há desmanches de veículos ilegais e desova. Tratar da situação de maneira mais regional, com compartilhamento de informações, colaboração entre as agências e as Guardas Civis que fazem a polícia urbana vai ser muito necessário para que o sistema funcione de maneira adequada”, diz Siena.
O coordenador do Observatório de Segurança diz que o ABC está no caminho certo ao investir na tecnologia. “Penso que o ABC está no caminho correto; temos boas experiências na tecnologia aplicada na segurança, mas pode melhorar. A gente está no caminho como o seguido pelas grandes metrópoles, como Nova York e Londres, mas pode aperfeiçoar e investir mais. Duas melhorias seriam bem vindas, uma é a maior integração dos Centros existentes, implementação em outros em municípios que não tem, justamente para atender a essa desafio da mobilidade criminal”, relata.
Siena diz que a tecnologia fora do País já é capaz de prever crimes antes que aconteçam. “No Brasil a nossa tecnologia está voltada para leitura de placas, que é importante, mas pode já pensar no emprego de inteligência artificial para monitorar comportamentos suspeitos, potencialmente criminosos em vias públicas, é a tecnologia do policiamento preditivo. Esse pode ser o próximo passo para o ABC”, completa.
Prisões
Enquanto em parte da região o reconhecimento de placas ainda carece de aperfeiçoamento e interligação com grandes bancos de dados para o cruzamento de informações em Santo André e Mauá os sistemas estão mais adiantados.
No COI (Centro de Operações Integrado) da prefeitura andreense não monitoradas 179 câmeras que fazem a leitura de placas e os dados são comparados com as informações da Secretaria de Segurança Pública. Só no primeiro trimestre deste ano, segundo a prefeitura 240 ações criminosas foram flagradas por essas câmeras. “A administração municipal tem como meta expandir esse número significativamente: a previsão é alcançar mais de 900 pontos com essa tecnologia até o final de 2026, reforçando a capacidade de prevenção e resposta às ocorrências de segurança pública”, diz nota da prefeitura.
Em um destes casos no dia 11 de abril um homem, após furtar um veículo Fiat Pulse, foi perseguido por 11 quilômetros pela Polícia Militar com acompanhamento das câmeras do COI. O criminoso acabou preso e o veículo recuperado.
Santo André também já está em fase de implantação do sistema de identificação facial. O município está em fase final para iniciar reconhecimento facial. A expectativa é que, uma vez implantado, o sistema seja integrado aos bancos de dados nacionais de pessoas procuradas, contribuir de forma ainda mais eficaz para a identificação e captura de foragidos da Justiça, além de oferecer suporte a investigações complexas e todos os acordos de cooperação técnica estão sendo feitos.
Procurado pela Justiça
Em Mauá são 50 câmeras com capacidade de leitura de placas. Há menos de um mês a GCM da cidade prendeu um procurado graças a essa tecnologia. A Guarda Civil Municipal, na noite de 28 de março, realizou a prisão de um indivíduo procurado pela Justiça, após alerta da Muralha de Segurança Inteligente. A ação ocorreu durante patrulhamento na avenida Ayrton Senna da Silva, quando os agentes receberam um alerta do sistema sobre um veículo Montana, cor cinza, pertencente a um foragido.
No local, os guardas identificaram o automóvel estacionado em frente a um comércio. Assim que o suspeito deixou o estabelecimento, a equipe realizou a abordagem e, após consulta documental confirmou-se que ele estava com mandado de prisão em aberto. O indivíduo foi conduzido ao 1º Distrito Policial de Mauá, onde permaneceu à disposição da Justiça.
O CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências) de São Caetano tem 100 câmeras com leitura de placas de carros. O sistema está interligado a bancos de dados de todo o País, de veículos roubados ou furtados e de pessoas procuradas. A Prefeitura informa que está avançado o processo de implantação de reconhecimento facial nas câmeras já existentes e a tecnologia nova poderá identificar uma pessoa mesmo que ela esteja com 67% do rosto coberto. Entradas e saídas da cidade e os pontos de maior criminalidade são os locais escolhidos para estas câmeras.
Veja a seguir imagens de três rapazes sendo detidos pela GCM de Diadema após câmera flagrar atitude suspeita: