ABC - sábado , 26 de abril de 2025

Empatia racional melhora convivência e reduz conflitos, ressalta psiquiatra

Em um cenário marcado por discursos agressivos, polarização e intolerância crescente nas relações pessoais e profissionais, a empatia racional se apresenta como um caminho viável para promover o respeito, a escuta e a convivência mais equilibrada. Diferente da empatia emocional, que depende da identificação afetiva com o outro, a empatia racional envolve uma escolha consciente de compreender o ponto de vista alheio, mesmo quando há discordância.

Em entrevista ao RDtv, o psiquiatra e psicoterapeuta Cyro Masci explicou que esse tipo de empatia não exige sentir o que o outro sente, mas sim compreender com base na razão o que ele vive, acredita ou valoriza. “A empatia racional não exige que concordemos com o outro ou que compartilhemos do mesmo sentimento. O que ela propõe é que, apesar das diferenças, possamos entender o porquê do outro agir ou pensar daquela forma”.

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(Foto: Reprodução/RDtv)

Saída do automático

Segundo o psiquiatra, um dos principais obstáculos para o exercício da empatia racional é o funcionamento automático do cérebro. Grande parte das decisões, reações e julgamentos que as pessoas fazem no dia a dia acontece sem reflexão, influenciada por vivências passadas, crenças familiares, traumas e hábitos. A forma de operar, embora economize energia mental, compromete a qualidade das interações.

“Somos condicionados pela nossa biografia, e isso nos faz agir de maneira automática. Quando não paramos para refletir, ficamos reféns desses padrões e passamos a julgar ou reagir sem pensar nas consequências”, explica Masci.

Para romper com o padrão, o especialista recomenda o uso de ferramentas como o mindfulness, que favorece a atenção plena e reconhece emoções à medida que surgem. Ao identificar um sentimento como raiva, por exemplo, a pessoa temr mais chances de interromper uma reação impulsiva e responder de maneira mais equilibrada.

Técnicas para empatia racional

A empatia racional se torna especialmente útil em ambientes polarizados, como grupos familiares, espaços de trabalho e interações em redes sociais, onde divergências de opinião frequentemente resultam em conflitos. Nesses casos, Masci sugere o uso da técnica PMI (Plus, Minor e Interesting na sigla em inglês), que consiste em analisar os pontos positivos, negativos e interessantes de uma ideia ou situação antes de formar uma opinião definitiva. “A abordagem permite sair do julgamento imediato e considerar aspectos que, num primeiro momento, poderiam passar despercebidos. Em vez de reagir com irritação ou deboche, podemos pausar, pensar e construir uma resposta mais respeitosa e produtiva”, explica.

Além de melhorar a qualidade das relações interpessoais, esse tipo de empatia promove mais bem-estar coletivo. Para Masci, exercitar a escuta racional diante de pensamentos e comportamentos diferentes dos seus não significa abdicar das próprias convicções, mas entender que convivência exige diálogo, e não imposição.

“É um exercício de convivência que ajuda a reduzir conflitos, melhorar a comunicação e gerar bem-estar coletivo. A empatia racional permite construir pontes onde, muitas vezes, só enxergávamos muros”, diz.

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