ABC - sábado , 26 de abril de 2025

Seminário na FSA celebra 60 anos do AA e debate sobre alcoolismo

O alcoolismo continua como tema delicado, por vezes negligenciado pela naturalização no convívio social. Para revisitar discussões profundas sobre o impacto do consumo abusivo de álcool, a Fundação Santo André (FSA) realiza, na sexta-feira (25/04), o seminário “60 anos do Alcoólicos Anônimos no Estado de São Paulo”, também para celebrar a presença da entidade que auxilia pessoas dependentes do álcool.

Voltado principalmente a estudantes de Psicologia e Medicina, o evento também reúne profissionais da saúde e membros do AA com o objetivo de estimular o diálogo e fortalecer redes de apoio. Em entrevista ao RDtv, Silvio (anônimo), o coordenador de seminários da Área 4 SP do AA, e Juliana Martini, professora, psicóloga e coordenadora da Clínica Escola da FSA, comentam sobre o evento que visa discutir sobre o alcoolismo que, segundo o Ministério da Saúde, acomete 18% dos brasileiros adultos.

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Silvio contou sobre suas experiências com o álcool (Foto: Reprodução/RDtv)

Vivência e superação

Silvio teve contato precoce com o álcool. Começou a trabalhar aos 13 anos em um escritório onde adultos mantinham o hábito de beber após o expediente. Embora, no início, somente observasse, convivia em ambientes na qual a bebida era algo natural, como no trabalho e na escola.

Mesmo após conquistar formação e ocupar cargos em grandes empresas, não reconhecia sua condição de dependente. Se considerava funcional, já que cumpria com as responsabilidades financeiras. “Achava que estava tudo bem desde que sustentasse minha família”, relata Silvio. Com o tempo, o impacto do alcoolismo se tornou inegável, logo quando a relação com a esposa se desgastou, e os filhos foram privados da sua presença.

A deterioração da saúde levou os pais a intervirem. Após consulta médica, recebeu o diagnóstico: alcoolismo. Foi então encaminhado ao AA, iniciando sua recuperação. “Parar de beber não bastava. O programa de 12 passos transformou minha forma de ver a vida, me possibilitando retornar ao mercado de trabalho, formar uma nova família e seguir sóbrio com o apoio do grupo”.

Cultura do álcool

Para especialistas, como Juliana, o álcool está amplamente presente na cultura brasileira, associado a celebrações, vínculos sociais e momentos de descontração. No entanto, a psicologa alerta para os efeitos danosos quando o uso ultrapassa os limites do equilíbrio. “Criamos uma simbologia positiva ao redor da bebida, mas esquecemos das consequências, que vão além dos danos físicos. Envolvem relacionamentos, desempenho social e autocuidado”, explica.

O consumo regular e descontrolado, mesmo sem configurar dependência formal, já representa risco. Juliana chama atenção para sinais de alerta, como a necessidade de beber para relaxar ou o excesso nos fins de semana. “É preciso observar qual é o papel do álcool na vida da pessoa. Ao se tornar uma muleta emocional ou um hábito compulsivo, há algo a ser investigado”.

Além disso, também destaca os prejuízos neurológicos e o vínculo entre alcoolismo e transtornos mentais. Lapsos de memória, quadros de ansiedade e depressão são comuns e agravam o sofrimento do indivíduo. Nesse cenário, espaços como o AA cumprem papel essencial ao oferecer acolhimento, estrutura e pertencimento.

60 anos do Alcoólicos Anônimos no Estado de São Paulo

O seminário promovido pelo AA acontece em dois períodos: das 9h às 12h e das 19h às 21h, no auditório da FAFIL da Fundação Santo André. A proposta é abordar o alcoolismo na atualidade, discutir possibilidades de tratamento e apresentar formas de cooperação entre o AA e os profissionais da saúde.

Embora os seminários do grupo sejam voltados a especialistas, nesta edição o foco está nos alunos de graduação, que participam presencialmente ou acompanham pela transmissão online da própria universidade. As inscrições são feitas no site da Fundação Santo André.

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