
A cena de um cachorro correndo atrás de um carro e abanando o rabo deixando claro que estava correndo atrás de seu tutor comoveu as rede sociais na terça-feira (22/04). O abandono não foi apenas de um cachorro, mas de três. Após a repercussão e depois de localizado pela Guarda Civil Municipal de São Bernardo, o homem trouxe de volta os animais para casa, mas, para a protetora Andressa Alves, que realiza um trabalho voluntário de abrigo e encaminhamento para adoção de animais, a atitude configura maus tratos e é enquadrada como crime ambiental.
“Esses animais que são abandonados são encontrados muitas vezes debilitados, feridos e com traumas psicológicos difíceis de serem superados. Quando a gente resgata um animal da rua muitas vezes ele sofreu tanto que tem medo de se aproximar das pessoas. Quando as pessoas veem um animal numa feira de adoção, todo bonitinho e feliz, não consegue imaginar o que ele passou. Os traumas físicos e psicológicos levam meses para serem superados, tem animais que não sobrevivem”, diz Andressa que é voluntária no grupo Esperança Animal, que reúne protetores e pessoas que oferecem suas casas como lares provisórios até a adoção.
A protetora diz que o animal, quando é abandonado pelo dono, se desespera. “Ele faz tudo para reencontrar quem ele ama, porque o amor dele para com o tutor é incondicional, já resgatamos animais que não comem, que choram e uivam o tempo todo e eles não perdem uma oportunidade de fugir para a rua de novo na tentativa de achar quem ele ama. A gente se esforça muito nessa tentativa de dar uma segunda chance a eles”, diz a voluntária que é de Santo André, mas resgata cães e gatos em todo o ABC, Capital e Região Metropolitana. Ela e outros protetores organizam feiras de adoção. No sábado (26/04) uma dessas feiras vai acontecer na avenida das Araras, 800 – Parque dos Pássaros, em São Bernardo das 14 às 18 horas.
Nas ruas são encontrados animais que nasceram nas ruas, outros que se perderam de seus donos e os que foram abandonados, mas pela experiência em resgates Andressa diz que 70% dos animais que são resgatados já tiveram uma família e, por isso o abandono é fatal para muitos deles. “Quando você tem alguém que te dá ração, água e cuida de você e, de repente é abandonado, conseguir comida é difícil e muitos são atropelados por carros. Muitos animais são recolhidos, e não são todos adotados, por isso que as ONGs (Organizações Não Governamentais) que se dedicam a esse trabalho estão lotadas, porque os novinhos são adotados logo, mas os mais velhos ficam anos e às vezes nem são adotados. Nosso trabalho é incansável, a gente acumula dívidas nos veterinários, a gente tira fotos bonitas, com eles bem bonitinhos para que encontrem um lar e, mesmo depois da adoção, a gente acompanhar como é a adaptação e se estão sendo bem cuidados”, explica.
O caso de abandono dos cães em São Bernardo aconteceu no bairro Jardim do Lago. A Secretaria de Segurança Pública informou que não localizou boletim de ocorrência sobre o caso. O RD procurou as prefeituras da região para comentar sobre casos de abandono de animais, como atuam e sobre campanhas de adoção. Apenas Santo André e Diadema responderam.
A prefeitura de Santo André informou que não tem uma estimativa de quantos animais perambulam pelas ruas da cidade. A cidade não recolhe animais por não ter onde colocá-los, das ruas são retirados apenas os animais doentes e vítimas de maus tratos. “Hoje temos dois equipamentos com animais tutelados pelo município. O Centro de Zoonoses abriga animais que são resgatados com doenças zoonóticas e o Centro de Adoção de Cães e Gatos no Hospital Veterinário Municipal, que recebe animais através do Departamento de Proteção de Bem Estar Animal, de resgates de atropelamentos e de maus tratos. Hoje ainda não fazemos recolha de animais abandonados, pois não temos um abrigo municipal para este fim. Sempre que o Departamento resgata um animal faz uma pesquisa nas redes sociais na tentativa de encontrar o tutor. Após o tratamento veterinário, castração e vacinação estes animais ficam disponíveis no Centro de Adoção. Atualmente temos 18 cães e 3 gatos no Centro de Adoção. Na Gerência de Controle de Zoonoses temos 42 animais, sendo 40 cães e 1 gato”, informa o paço andreense.
Em Santo André, para adotar um animal é necessário apresentar RG, CPF, comprovante de endereço e ser maior de 18 anos. No ano passado o Centro de Adoção conseguiu um lar para 35 animais e neste ano mais 12 foram adotados. Na Gerência de Controle de Zoonoses foram adotados 397 animais em 2024 e 130 neste ano. Se um dos animais cadastrados é abandonado a prefeitura pode acionar o tutor na justiça. “Abandono é crime. Sempre que constatado uma situação de abandono aplicamos as sanções cabíveis e em alguns casos acionamos a Polícia Civil também”, diz a prefeitura. Na cidade denúncias de abandono, negligência e maus tratos podem ser informados no 0800.019.1944 e no aplicativo Colab.
Diadema também não tem um censo animal para saber o tamanho da população de animais nas ruas. Na cidade apenas são recolhidos os animais que estiverem doentes ou que apresentem algum risco. “Atualmente a Prefeitura de Diadema mantém sob sua guarda 36 animais, sendo 24 cães e 12 gatos. Destes gatos, três estão em tratamento médico e não estão disponíveis para adoção no momento. Para adotar um animal é preciso comparecer à Unidade de Vigilância em Zoonoses (UVZ), localizada à Rua Capela, 380 – Inamar, de segunda a sexta, das 8h às 16h, exceto feriado e pontos facultativos, e apresentar cópias e originais de RG, CPF e comprovante de endereço (originais e cópias). O site www.adoteamor.diadema.sp.gov.br também pode ser consultado antecipadamente para visualizar fotos, portes e informações adicionais sobre os animais, mas não é obrigatório para efetivar a adoção. Desde o início do ano até 23 de abril, foram adotados quatro cães e três gatos. Já em 2024, foram adotados 19 cães e 16 gatos”, informa a prefeitura.
Diadema informou também que quer fortalecer o Conselho Municipal de Proteção e Bem-Estar Animal. “Essa medida vai pavimentar o caminho para que recursos resultantes de multas aplicadas por maus-tratos sejam destinados ao Fundo Municipal para Proteção e Bem-Estar Animal. Além disso, a atual administração quer implantar, ainda este ano, o SOS Pet, que consiste no convênio com clínicas veterinárias particulares, visando atender animais da população de baixa renda da cidade, desenvolver campanhas permanentes de vacinação e castração gratuitas”. Em casos de maus tratos, o paço diademense recomenda o acionamento da Polícia Militar através do telefone 190. Já nos casos de ameaça à saúde pública o munícipe pode acionar a Unidade de Vigilância em Zoonoses (UVZ), localizada à Rua Capela, 380 – Inamar, de segunda a sexta, das 8h às 16h, exceto feriado e pontos facultativos e também pode utilizar os serviços do Aplicativo COLAB para fazer denúncias: https://portal.diadema.sp.gov.br/colab-2/ “, completa a prefeitura.
Veja vídeo em que cachorro corre atrás do carro do homem que o abandonou: