
Dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE revelam cenário preocupante para a mobilidade urbana no ABC. Em cidades como Mauá e Rio Grande da Serra, mais de 80% das casas enfrentam obstáculos nas calçadas, como postes, buracos, degraus ou falta de nivelamento, o que dificulta a locomoção de pedestres, especialmente pessoas com deficiência, idosos e quem usa carrinho de bebê.
Para se ter ideia, em Mauá, foi identificado que 124.305 domicílios (83,15%) possuem obstáculos nas calçadas e, em Rio Grande da Serra, a situação é semelhante: 81,13% das moradias apresentam esse problema. Na outra ponta, São Caetano é a cidade com o menor índice no ABC: 53,44% dos domicílios têm calçadas com obstáculos, enquanto 46,18% não apresentam obstáculos.
Outro fator que agrava a falta de acessibilidade é a escassez de rampas para cadeirantes. Em Ribeirão Pires, apenas 3,06% dos domicílios contam com o recurso. Em Diadema, o índice é um pouco maior, mas ainda insuficiente: 7,28%. São Caetano se destaca mais uma vez, sendo o único município onde a maioria das moradias (58,12%) possui rampas nas calçadas.
Falta de acessibilidade
Em Ribeirão Pires, onde 73,25% das calçadas apresentam obstáculos, os moradores enfrentam dificuldades diariamente. Na rua Pedro Mansueto Bechelli, no Centro, a situação é especialmente crítica. “A calçada aqui é intransitável e sempre foi assim”, relata a aposentada Sandra Bernardini Batista, de 61 anos.

Sandra conta que, apesar de ser uma rua bastante movimentada por veículos e pedestres, e de estar ao lado do escadão que leva ao Mirante São José – ponto turístico da cidade -, os pedestres são forçados a andar na rua por causa do mato alto e da queda frequente de galhos.
Ainda na região central, próximo ao Centro de Referência ao Idoso (CRI), na rua Alferes Botacin, o cenário é semelhante. “Se no Centro da cidade já temos problemas como este, imagine só nos bairros. Já presenciei idosos andarem pela rua por conta da calçada desregulada”, comenta um morador que preferiu não se identificar.
Em Diadema, além da baixa presença de rampas, moradores do Jardim São Judas Campanário relatam abandono. Um trecho da rua Jacuí, na altura do número 66, permanece com o passeio público danificado desde a remoção de uma árvore feita há mais de um ano. A árvore, com mais de 30 anos, foi retirada sob a justificativa de que suas raízes estariam rachando a calçada, mas o endereço segue sem manutenção.
“Os pedestres são obrigados a andar na rua, o que é perigoso. Já reclamamos, mas nada foi feito”, afirma Cosmo, morador e líder comunitário da região ao reforçar que idosos e pessoas com deficiência são os mais prejudicados.
Direito de ir e vir
A presença de obstáculos nas calçadas não é apenas um problema de infraestrutura, mas violação do direito de ir e vir. Para a urbanista Alessandra Macedo Dias, pesquisadora em Ribeirão Pires, a situação revela um descaso com a população mais vulnerável. “As calçadas são o primeiro equipamento público que a pessoa utiliza ao sair de casa. Se estão obstruídas, isso impede o deslocamento com segurança e dignidade”, explica.
A especialista urbanista destaca ainda que, em muitas cidades brasileiras, a responsabilidade pela manutenção das calçadas é atribuída aos proprietários dos imóveis, o que resulta em falta de padronização e pouca fiscalização. “Garantir calçadas acessíveis, com rampas e sinalização adequada, é fundamental para promover uma mobilidade urbana inclusiva. Os dados do Censo mostram a urgência de termos políticas públicas voltadas à acessibilidade e à fiscalização da infraestrutura urbana”, conpleta.
Como denunciar?
Moradores que identificarem calçadas danificadas, com obstáculos ou sem acessibilidade, podem acionar a Prefeitura por meio da ouvidoria municipal. Em geral, as reclamações podem ser feitas presencialmente, por telefone ou pelo site oficial de cada município. Também é possível registrar queixas pelo portal e-Ouv (www.gov.br/ouvidorias), que direciona a demanda ao órgão competente.