
Somente neste ano foram confirmados 5.131 casos de dengue no ABC e outros 3.813 estão em investigação. A doença fez três vítimas fatais este ano sendo duas em Diadema e uma em Santo André. Os números são menores do que os do ano passado, que de janeiro a abril tinha mais de 28 mil confirmações e 25 mortos. A vacinação começou no final de fevereiro de 2024 e de lá para cá 199.331 doses foram aplicadas na região, porém o ritmo caiu 59,4% desde a primeira vacina aplicada até agora.
Segundo dados do Ministério da Saúde, atualizados até domingo (27/04), do início da vacinação até o fim de abril do ano passado, portanto em pouco mais de dois meses, foram aplicadas 1.677 vacinas na região, já neste ano em quase quatro meses foram aplicadas 680. A média de vacinados no ABC é de pouco mais de 30%, ou seja, de cada dez jovens dentre 10 e 14 anos, elegíveis para a vacina, sete ainda não compareceram os postos de vacinação.
Para a biomédica, parasitologista e presidente do Comitê de Contingenciamento, Prevenção, Diagnóstico e Tratamento da Dengue na FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Alaide Mader Braga Vidal, a baixa vacinação contribui para casos mais graves e também para que a doença acometa mais pessoas.
“A baixa adesão à vacinação representa um fator de risco para casos graves da dengue, devido às reinfecções, por isso eu acho fundamental que haja um esforço para informar os jovens e os responsáveis como medida de proteção individual e coletiva contra a dengue. Além disso a baixa adesão enfraquece a imunidade coletiva, permitindo que o vírus se espalhe mais rapidamente e afete mais pessoas. Em área onde a vacinação é insuficiente o número de casos pode crescer significativamente, então sobrecarrega os sistemas de saúde, expondo mais pessoas a riscos graves”, diz a especialista.
Para a presidente do Comitê de Contingenciamento uma combinação de fatores, a maioria relacionada à falhas de comunicação, são os responsáveis pela baixa adesão à vacina contra a dengue. “É provável que a baixa adesão seja o resultado de uma combinação complexa de fatores, incluindo desafios na implementação da vacinação por algumas prefeituras, falta de atenção e informação por parte de alguns pais, a influência negativa de movimentos antivacinais e a disseminação de fake news. Para aumentar a adesão é fundamental que haja um esforço conjunto entre as autoridades de saúde, a mídia e a sociedade para fornecer informações claras, combater a desinformação e facilitar o acesso a vacina”, aponta.
Alaide explica que uma dose apenas já traz uma proteção, mas para que essa seja duradoura é necessário completar o esquema vacinal com a segunda dose, aplicada três meses após a primeira. “Estudos feitos mostram que após 30 da primeira dose da vacina já se consegue reduzir o risco de uma pessoa pegar a dengue em 81%, mas para a proteção duradoura são necessárias duas doses com intervalo de três meses”, diz a biomédica.
Ainda na esteira da divulgação de informações confiáveis, Alaide Mader Braga Vidal diz que o investimento em informação deve ser regionalizado, direcionado e contínuo. “Embora o governo federal realize campanhas de combate à dengue é possível que haja espaço para aprimorar, em termos de investimento e estratégia, com foco regional e combate à desinformação. Um maior investimento em uma comunicação direcionada e contínua poderia trazer resultado mais positivos”, completa.
Prefeituras
Em Ribeirão Pires 6.870 crianças e jovens estão na idade para tomarem a vacina da dengue porém só 1.795 (26,13%) tomaram a primeira dose e 590 (8,59%) tomaram a dose complementar. Como ação pioneira no combate ao mosquito Aedes Aegypti, vetor da doença e de outras, a prefeitura adotou um sistema de armadilhas. “A cidade conta com 900 armadilhas In2Care da Biovec para controlar a proliferação do Aedes Aegypti”, informa a prefeitura. A cidade já teve 92 casos confirmados, segundo o Ministério da Saúde, só neste ano.
Rio Grande da Serra identificou seis casos positivos de dengue este ano. No município são cerca de 600 pessoas, dentro da idade para acessar a vacina, mas apenas 180, cerca de 30% foram imunizadas. Com estratégia a cidade abre as unidades de saúde uma vez por mês aos sábados, também estende o horário de funcionamento.
Em São Bernardo 49.236 crianças e jovens podem tomar a vacina, mas apenas 32,7% tomaram a primeira dose e 12,3% tomaram a segunda. “A cidade disponibiliza a vacina contra a dengue em todas as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e neste ano já realizou três mutirões aos sábados para ampliar a cobertura vacinal. Os ACSs (Agentes Comunitários de Saúde) dialogam diariamente com a população atendida acerca da importância da vacinação”, diz a prefeitura.
Tecnologia como a de drones tem facilitado a identificação e combate aos criadouros do mosquito. “Uso de nebulizadores em veículos, que aplicam inseticida para eliminar mosquitos adultos; drones, que tanto mapeiam criadouros em locais de difícil acesso, quanto aplicam larvicidas, estão entre as tecnologias implementadas. Agentes e supervisores de combate de endemias, diariamente visitam imóveis (casas, comércios, empresas, terrenos, obras, escolas, hospitais etc) e pontos estratégicos, como pátio de veículos apreendidos, desmanches, recicláveis, transportadoras, borracharias, montadoras de veículos etc. As visitas têm como objetivo a procura de criadouros (recipientes com água e larvas), realizando a eliminação dos mesmos ou aplicando inseticida se necessário. Desde janeiro, mais de 240 mil imóveis já foram visitados. Pelo telefone 0800 019 5565 é possível fazer denúncias de possíveis focos de dengue e solicitar a ação dos agentes”, diz nota do paço de São Bernardo, cidade que teve 810 casos de dengue este ano.
Em Diadema os números da doença também caíram porém ainda é a cidade com maior número de mortes este ano. Segundo a prefeitura foram 1.533 casos confirmados e dois óbitos, na mesma época, em 2024 foram 5.617 casos da doença e cinco óbitos.
O paço diademense estima a população entre 10 e 14 anos em 20 mil pessoas, pouco mais da metade; 10.250 tomaram a primeira dose, mas o complemento da imunização só está em 2.961 seja, 14%. “A prefeitura tem intensificado o estímulo à vacinação contra a dengue para o público alvo (adolescentes de 10 a 14 anos) por meio de campanhas de conscientização e mobilização social, divulgação de informações por mídias oficiais, material educativo distribuído em escolas, Unidades Básicas de Saúde e espaços públicos e parcerias com escolas para ações educativas com crianças e famílias”, sustenta a prefeitura.
Diadema identificou os bairros com mais focos do mosquito, são eles: Centro, Jardim das Nações e Serraria. “A prefeitura mantém o trabalho de vistoria casa a casa e eliminação de criadouros do mosquito Aedes aegypti, bem como aplicação de larvicida nos pontos estratégicos e áreas com maior incidência, mutirões em parceria com agentes comunitários e apoio da Defesa Civil, ações de nebulização em bairros com maior incidência de casos confirmado”, completa comunicado da prefeitura.
Santo André, São Caetano e Mauá não responderam.