ABC - terça-feira , 29 de abril de 2025

Governo precisa deixar indústria mais leve, avalia dirigente de CIESP do ABC

Houve estímulos para o setor automotivo, o carro chefe da economia, como o Inovar-Auto, no entanto o programa só favoreceu até agora as grandes montadoras e sistemistas, diz Hitoshi Hyodo.

O ano de 2013 se foi e para a indústria no ABC não há quase nada para ser comemorado. O balanço não é positivo, em razão da falta crescimento. Os quatro dirigentes das regionais do CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) afirmam que foi um ano complicado em virtude da falta de política industrial do governo, nas três esferas, que privilegie as empresas brasileiras, principalmente as de pequeno porte e micros. Se não bastasse, não há otimismo em relação a 2014. O Carnaval será só em março e o ano é de Copa do Mundo e eleições, cenário desfavorável para muitos setores da indústria.

Para os empresários, são três datas importantes, mas que não ajudam a indústria local. “Estamos saindo de um ano horroroso para outro mais difícil”, aponta Donizete Duarte da Silva, diretor do Ciesp Diadema. O município congrega cerca de 1,8 mil indústrias, principalmente do setor metal-mecânico. A maioria é de pequeno e grande porte. As pequenas amargam a onda de importação feita pelos sistemistas, que trazem quase tudo de fora. “O cenário é de vaca não conhecer o bezerro”, define o empresário da área de automação industrial.

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Hitoshi Hyodo, diretor do Ciesp em São Bernardo, diz que 2013 foi de grandes investimentos no município, mas isso pouco refletiu nas pequenas empresas. Houve estímulos para o setor automotivo, o carro chefe da economia, como o Inovar-Auto, no entanto o programa só favoreceu até agora as grandes montadoras e sistemistas. As médias e pequenas, como autopeças e ferramentarias, sofrem com a entrada dos componentes importados. “Não dá para elas concorrerem, porque o crédito é caro e o imposto é absurdo”, diz.

Para William Pesinato, vice-diretor do Ciesp São Caetano, 2013 foi atípico. “Não dá para se queixar, porém não dá para fazer festa”, diz. Para o empresário do setor de saúde, existe muito dinheiro para a indústria, só que ela não sabe como buscar. Além disso, a carga tributária, na faixa de 40%, achata a indústria, e a forma de cobrança dos impostos é extremamente burocrática. “Está sempre em mutação e a nova não anula a velha”, reclama.

No Ciesp Santo André, responsável ainda por Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, o titular Emanuel Teixeira considera que 2013 foi um ano de demandas, mas ficou só na conversa. Com uma base superior a mil indústrias, principalmente de metalurgia e metal-mecânico, o setor também enfrentou dificuldades. O problema é maior entre as pequenas e micros, que só na entidade correspondem a 90% dos 250 associados.

Teixeira reclama de que o governo fortaleceu a indústria lá fora, com subsídios, em detrimento do parque nacional. “Temos o custo de matéria-prima mais caro (70%), processo de fabricação com nível de tecnologia ruim e bitributação nos matando”, enumera ao garantir que a indústria é competitiva em processos, mas ela é apenas montadora de produtos fabricados lá fora.

O diretor do Ciesp Santo André afirma que a queda do PIB (produto interno bruto) espelha bem o cenário da indústria brasileira. Segundo a Fundação Seade, a produção de riquezas no ABC em 2011 foi de R$ 2,6 bilhões menor do que em 2010, encerrando o ano com R$ 87,69 bilhões. A indústria puxou a queda, com redução do valor adicionado à economia em R$ 2,5 bilhões. Desta maneira, o PIB geral da região apresentou queda real de 2,92%. Já a indústria teve queda real da ordem de 8,1%. Acumulou a geração de R$ 28,60 bilhões em 2011 contra R$ 31,12 bilhões em 2010.

“Governo precisa deixar indústria mais leve”

Incógnita ou descrença total. Assim os diretores do Ciesp no ABC olham sobre o desempenho da indústria em 2014. William Pesinato, vice-diretor do Ciesp São Caetano, acredita que, ao contrário de outros parques e setores da economia, as eleições e a Copa do Mundo vão tirar o foco na região. Por isso, não espera crescimento. “O retrato é o de 2013: sem política industrial, sem condição de administração”, afirma ao reivindicar menos burocracia e controle do governo na documentação fiscal e uma política que perspectivas para o jovem no mercado de trabalho.

“O governo precisa deixar a indústria nacional mais leve para que possa ser mais competitiva”, argumenta Emanuel Teixeira, diretor do Ciesp Santo André. O empresário reclama da alta carga tributária para competir com produtos, principalmente, da China e Taiwan. “Temos engenharia, mão-de-obra e logística, mas ao expedirmos nota o produto fica caro e não dá para competir. É preciso desonerar, sem isenção por tempo limitado, e não fazer movimentos bruscos para que possamos comprar as máquinas que projetamos adquirir em 2013”, afirma.

Para Donizete Duarte da Silva, diretor do Ciesp Diadema, a indústria nacional precisa de inovação e de política de não apenas de operacionalização. “Precisamos urgente de profissionais pensantes”, diz o empresário que faz campanha para regulamentação da profissão de pesquisadores para abastecer a indústria no desenvolvimento de projetos de tecnologia.

“O grande problema são os movimentos bruscos do governo ou que não faz o combinado. Estimula o consumo sem antes permitir à indústria se preparar para atender ao crescimento do consumo, como comprar máquinas. Enquanto isso, o importado faz a festa”, comenta Hitoshi Hyodo, de São Bernardo.

Sebrae aposta em crescimento de 2% em 2013

Segundo a pesquisa mensal de conjuntura Indicadores Sebrae-SP, o faturamento das MPEs fechou outubro com variação de +0,4% em relação a igual período de 2012.
A receita total do universo das MPEs paulistas, já descontada a inflação, foi de R$ 50,2 bilhões, isso significa R$ 221 milhões a mais do que no mesmo mês de 2012 e R$ 4,5 bilhões, ou 9,8%, acima do resultado de setembro deste ano. O setor que apresentou o resultado mais positivo foi o comércio, com crescimento de 5,9% no faturamento. Os serviços registraram queda de 3,8% e a indústria recuou 6,3% ante outubro do ano passado.

No mês, o ABC apresentou aumento de 4,2% no faturamento, na comparação com igual período do ano passado, contra queda de 2,1% na Capital e uma evolução positiva de 1,4% no Interior do Estado.

No acumulado do ano, de janeiro a outubro, as MPEs faturaram 2,3% mais em relação ao mesmo período de 2012. Na comparação, o resultado da indústria foi 1,9% negativo, enquanto que no setor de serviços houve aumento de 1,2%. Já o comércio se saiu melhor, com avanço de 4,4% na receita real.

O fraco desempenho da economia e problemas de competitividade propiciaram o cenário. “Tendo em vista os resultados até outubro, a projeção do Sebrae-SP é que as micro e pequenas empresas paulistas encerrem o ano com aumento real de 2% no faturamento”, informa Bruno Caetano, diretor-superintendente do Sebrae-SP.

Expectativas

A pesquisa do Sebrae-SP, detectou em novembro que os proprietários de MPEs esperam estabilidade no faturamento da empresa nos próximos seis meses. “Porém, notamos um aumento da incerteza no que diz respeito à evolução da receita da empresa, pois em novembro deste ano, 11% dos entrevistados disseram não saber como será o comportamento de sua empresa. Um ano atrás, essa parcela era de 7%”, diz Gonçalves.

A expectativa dos empresários em relação à economia também é de manutenção do atual nível de atividade nos seis meses que estão por vir. No entanto, os que esperam melhora na economia estão em menor número agora. Em novembro de 2012, 31% dos donos de MPEs estavam confiantes em um cenário mais positivo e no mesmo mês deste ano a parcela caiu para 24%.

“Os salários e o crédito devem evoluir de forma mais modesta em 2014. Com isso, o consumo no mercado interno deve crescer mais lentamente, o que significa desaceleração do consumo. O consumo é justamente o principal fator que impulsiona o desempenho das micro e pequenas empresas”, completa Gonçalves. Segundo ele, nesse contexto, as MPEs tendem a apresentar crescimento moderado em 2014.  

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